Em diversas ocasiões, questionei-me se era válido realizar um programa, seja lá qual fosse, desacompanhada.
Resolvi pesquisar no Google se esse questionamento era comum e quem sabe talvez, achar relatos das experiências de corajosos que se atrevem a realizá-los. Tão bizarro quanto pesquisar isso no Google foi achar respostas ridículas espalhadas pela internet.
Confesso que fiquei um pouco assustada (e decepcionada) com alguns tópicos levantados sobre o assunto. Descobri opiniões tão arcaicas para o século XXI. Por exemplo, uma mulher sozinha, em um bar, bebendo chopp, sendo taxada de garota de programa. Um homem jantando sozinho em um restaurante refinado, taxado como loser, encalhado, rejeitado. Ainda teve o caso de uma mulher que foi negada ser atendida em uma churrascaria no interior do país, apenas porque estava desacompanhada e isso não era bem visto por aquela comunidade.
Falamos tanto sobre direitos hoje em dia, e praticamente não temos nem direito à nossa própria solitude. Sair/viajar desacompanhado gera pena, julgamentos, olhares tortos e cochichos.
Li histórias de garotas que foram brutalmente cantadas e ofendidas por estarem sozinhas na balada. Teve um caso, até atrevido, de um cidadão que se encaminhou a mesa de uma moça desacompanhada e disse: "Não precisa esperar mais. Ele não vem." Ele, em sua mini cabeça de troglodita, deduziu que a senhorita acabara de tomar um bolo.
Felizmente também li experiências positivas e até encontrei pessoas que tem o costume de sair sozinhas por opção. Em um primeiro programa solo, um homem que foi a balada concluiu ao relatar sua noite: "Precisei sair perdido na noite para me encontrar. Me achei o máximo porque descobri que, hoje, sou a pessoa mais importante da minha vida."
Isso não é maravilhoso?!
São várias as situações que carregam a expressão de surpresa e crítica de quem observa. Uma viagem, um mochilão, uma noite na balada ou até ir a um restaurante desacompanhado.
Falando em viagem, recordei meu intercâmbio que iniciou-se aos 15 anos. Ali comecei a vivenciar os momentos de "solidão" que hoje carrego nas costas. A verdade é que esses, em sua maioria, foram produtivos, divertidos e inusitados. De cara lembro de uma refeição que fiz em um aeroporto, durante uma escala. Aprendi minha primeira lição de viajante: "quando se está só, coração e mente abertos, alma mais leve." (...) Na fila da máquina de bebidas, conheci um Irlandês. Não lembro seu nome, nem perguntei. O fato é que tínhamos coisas em comum. Os dois longe de casa e aparentemente com problemas para achar a tampinha que encaixava no copo de refrigerante. Besteira! Por alguns minutos interagi com um desconhecido, dei gargalhadas com ele e de uma situação tão boba. Depois sentei-me em uma mesa para comer, sozinha, assim como ele fez (...).
Perdi a conta de quantas refeições fiz sozinha e quantas situações não planejadas (e engraçadas) ocorreram durante as viagens que realizei nos últimos anos. Até passar a noite no chão do Santos Dumont, completamente alone, pós Rock in Rio, entrou para a lista. Perdi a conta também de quantas vezes ouvi "você é doida por fazer isso".
Outra lição que aprendi nesses momentos solo foi "só fica realmente sozinho quem quer." Com um pouco de simpatia, dificilmente você não irá conhecer pessoas nessas aventuras forever alone. Seja na balada ou em uma trip. Não precisam se tornar amigos para a vida toda, talvez só uma distração, mas nunca se sabe.
O fato é que estar desacompanhado, não significa que você está infeliz, não tem amigos ou é indesejável. Também não é ou pelo menos não deveria ser motivo de pena. Tantas vezes sentimos a necessidade de ficarmos sozinhos com nosso próprio pensamento.
Sem falar da liberdade que deve ser ir para a balada e voltar a hora que desejar e com quem desejar, fazer os passeios turísticos que apenas te interessam naquela viagem e não ter que se preocupar em agradar os outros ou poupar seus caprichos.
(E claro, não se esqueça - "antes só do que mal acompanhado". Tão clichê! Tão verdade!)
Acontece que outras vezes simplesmente e realmente não temos companhia mesmo! Seja porque as pessoas do nosso círculo de amizade não gostam da mesma banda, estão sem dinheiro, sem vontade de sair ou não tem férias no mesmo período. Uma coisa é certa: não dá é para depender dos outros.
Nascemos sozinhos, morremos sozinhos. É a lei da vida.
Os julgamentos podem ser suportados até certo ponto - grande problema é quando nossa mania de se preocupar muito com o que os outros pensam, nos impede de fazer programas que poderiam ser prazerosamente desfrutados sozinhos.
Essa é a ditadura social, criada sabe-se lá porque quem.
Que isso gere reflexão.
Não se preocupe, divirta-se acompanhado ou em sua própria companhia, viva seu direito de solitude! "Beijo no ombro" para os críticos de plantão, eles provavelmente invejam sua coragem e confiança. Vive la liberté!
*Inspirado por textos publicados em http://farinhademandioca.wordpress.com ; http://patricialimeres.blogspot.com.br ; http://contodavidareal.blogspot.com.br ; http://blogueirasfeministas.com ; http://www.aredacao.com.br
quinta-feira, 10 de abril de 2014
Reflexão do dia: sair desacompanhado, direito à solitude e julgamentos
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